quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O tolo e o sábio





















"O tolo que sabe que é tolo, nisso, pelo menos, é sábio. Mas o tolo que
pensa que é sábio, esse é realmente um tolo."

O sábio Saadi, nascido em Xiraz, caminhava por uma rua com seu discípulo, quando
viu um homem tentando fazer com que sua mula andasse.

Como o animal recusava-se a sair do lugar, o homem começou a insulta-lo
com as piores palavras que conhecia.

Então o sábio aproximou-se dele e calmamente falou:
- Não sejas tolo... o asno jamais aprenderá tua linguagem. O melhor será
que te acalmes, e aprendas a linguagem dele.

O homem não lhe deu ouvidos e continuou xingando o animal; o sábio
afastando-se, comentou com o discípulo:
- Antes de entrar numa briga com um asno, pensa bem na cena que
acabaste de ver.

Não é sábio discutirmos com alguém que ainda não esteja preparado para
as coisas simples da vida, como por exemplo compreender o grande amor
de Deus em todas as criaturas... é preciso saber calar para deixar um tolo
falar!!!


 Muslah-Al-Din Saadi

Trecho do poema "Jardim das rosas" , escrito no século XIII.

Saadi - Gulistan (O Jardim das Rosas)


Um rei injusto perguntou a um santo homem: "O que é melhor do que uma prece?" O santo homem respondeu: "Vossa Majestade ficar dormindo até o meio-dia, para que nesse intervalo não possa afligir os homens"
Dez daroeses podem dormir num tapete, mas dois reis não podem acomodar-se num reino todo
Se vós cortejais o ricos, não procureis contentamento.
O homem religioso que se sente vexado com uma ofensa, não passa ainda de um ribeiro raso.
Ninguém jamais reconheceu a sua própria ignorância, exceto aquele que, enquanto o outro está falando e não acabou de falar, começa a falar.
Se vós tiverdes uma perfeição e setenta falhas, vosso amante discernirá somente essa perfeição.
Não vos apresseis... Aprendei a deliberar. O cavalo árabe galopa a toda velocidade e logo se esgota; o camelo, com o seu passo firme, viaja noite e dia e chega ao fim da sua jornada.
Adquiri o saber, pois nenhuma confiança se pode depositar nas riquezas ou posses... Se um profissional perde sua fortuna ele não precisa lamentar-se, porque os seus conhecimentos constituem uma fonte de riqueza.
A severidade do mestre-escola é mais útil do que a indulgência do pai.
Se a inteligência fosse aniquilada da face da Terra, ninguém poderia dizer "eu sou ignorante".
A leveza de uma nós é sinal da sua vacuidade.

Sa'di (Musharrit ud-Din ibn Muslih ud-Din Abdala) - Gulistan (Jardim da Rosa) - publicado em 1258

O jardim das rosas


Gulistan ("O Jardim de Rosas") é uma das principais obras da literatura persa.
Escrito em 1259 E.C., é uma das dua obras primas do poeta persa Sadi, considerado um dos melhores poetas persas medieval.
O Gulistan é uma coleção de poemas e histórias, da mesma forma que um jardim de rosas é uma coleção de rosas. É comumente citado como uma fonte de sabedoria. A entrada do Salão das Nações Unidas tem a seguinte inscrição tirada do Gulistan.

Os seres humanos são parte de um todo,
Na criação de uma essência e alma.
Se um membro sofre dor,
Outros membros permanecerão inquietos.
Se você não tiver simpatia pela dor humana,
Você não pode reter o nome de humano.

domingo, 25 de outubro de 2009




















"Na madrugada...
O Amor batendo na porta que se encontrava fechada!
Toc! Toc! Toc!
- Quem é?
- És tu mesma!
E a porta foi-lhe aberta."

Jalal-ud-Din Rumi

quinta-feira, 22 de outubro de 2009






"Confia em Deus mas amarra o teu camelo"

Provérbio persa

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A Linguagem dos Pássaros





Um grupo de pássaros desejava encontrar a seu rei; então pediram à poupa sábia (um pássaro com crista em forma de abano) que lhes ajudasse em sua busca. A poupa lhes disse que o rei que estão procurando se chama Simurgh (que significa em persa “Trinta Pássaros”) e que vive escondido na montanha de Kaf, porém é uma viajem muito difícil e perigosa. Os pássaros imploram à poupa que os guie. A poupa aceita e começa a ensinar a cada pássaro de acordo com seu nível e temperamento. Ela lhes diz que para alcançar o alto da montanha, necessitam atravessar cinco vales e dois desertos; quando tiverem passado o segundo deserto, entrarão no palácio do rei.
Os de vontade débil, temerosos da viagem, começam a por desculpas. O louro, que é egocêntrico e egoísta, diz que no lugar de ir em busca do rei, buscará o Santo Gral. O pavão real, a ave legendária do paraíso, exclama que tem sonhado que voltará ao céu e que vai esperar pacientemente esse dia. A pata, se lamenta porque sua vida depende de estar próxima da água e morreria se si separasse dela. A garça tem uma desculpa similar; não lhe é possível viajar longe do mar, porque seu amor pela água é tão grande que, embora permaneça sentado durante anos à sua margem, não tem ousado beber nem uma gota, se não o mar acabaria sem água. A coruja declara que prefere ficar e buscar as ruínas com a esperança de encontrar um tesouro algum dia. O rouxinol diz que não necessita viajar, porque está enamorado da rosa e este amor é suficiente para ele. Possui os segredos do amor que nem outra criatura tem; e com uma voz maravilhosa canta ao amor:
- Conheço os segredos do amor. Toda noite derramo meu canto de amor. A música mística da flauta se inspira em meu lamento, e sou eu quem faz desabrochar a rosa e comover os corações dos namorados. Ensino mistérios com minhas tristes notas, e quem me ouve se perde em êxtase. Ninguém conhece os meus segredos, unicamente a rosa. Tenho me esquecido de mim mesmo e só penso na rosa. Alcançar a Simurgh está acima de mim! O amor da rosa é suficiente para o rouxinol!
A poupa que escutou pacientemente responde ao rouxinol:
- Tu estás preocupado com a forma exterior das coisas, pelos prazeres de uma forma sedutora. O amor da rosa tem lançado espinhos a teu coração. Não importa quão grande seja a beleza da rosa, se desvanecerá em poucos dias; e o amor a algo tão passageiro só pode causar repulsa ao perfeito. Se a rosa te sorri é só para enxerte de dor, porque ela rir-se de ti a cada primavera. Abandona a rosa e seu quente calor.

“O que quer dizer Attar com esta simples conversação? Nós humanos temos o desejo de buscar a perfeição, mas muitas vezes tendemos a parar o processo tão logo detectamos o mais ligeiro sinal de progresso. Isto é especialmente certo nos aspirantes ao caminho espiritual: muitos buscadores estão encantados com as primeiras etapas do despertar e o confundem com a completa iluminação. Attar nos adverte de tais perigos: não devemos confundir o amor do imaginário com o amor do Real. Por esta razão, o rouxinol tem que abandonar seu enganoso apego pela rosa para buscar ao eterno Amado.”

A poupa deleita os pássaros com maravilhosas histórias daqueles que têm feito a perigosa viagem.
Depois de ter ouvido as histórias da poupa, os pássaros estão inspirados para começar sua viajem até o primeiro vale.
Entretanto, logo começam a ter problemas, e se dão conta de que o caminho vai ser mais difícil do que haviam imaginado. Alguns voltam a por desculpas. Um afirma que a poupa não é suficientemente sábia para conduzi-los. Outro se queixa que satanás lhe tem possuído e lhe está pondo as coisas difíceis. E outro expressa seu desejo de ter dinheiro e a comodidade de uma vida de luxo.
Finalmente, a poupa decide que a única forma para que os pássaros compreendam, é descrever-lhes os sete vales e desertos da viajem. O primeiro é o Vale da Busca. Aqui se busca a Verdade com inquietude, diz a poupa. Com constância, se busca um significado maior ao propósito da vida. Só um buscador com dedicação pode atravessar a salvo o primeiro vale e ir ao segundo, o Vale do Amor. Aqui se sente um desejo ilimitado de ver ao Rei Amado. Um fogo abrasador começa a crescer no coração e se faz devastador. O lugar é mais perigoso que o primeiro vale, porque há obstáculos no caminho para por a prova o amor. Entretanto esse mesmo amor impulsiona ao buscador sair do vale e ir até uma terra mais alta: o terceiro vale, o Vale do Conhecimento. Uma vez que se entra nesta terra, o coração se ilumina com a verdade. Se adquire aqui o conhecimento interior do Amado. Deste lugar o viajante continua a viajem ao Vale do Desapego, onde perde seus desejos de possessões mundanas. Não existe ataduras com o mundo material para o viajante que atravessa esse vale; liberado dos desejos agora o aspirante é completamente independente.
Cada novo lugar que o buscador encontra é mais perigoso que o anterior e deve ser explorado passo à passo, porque cada um contém suas próprias provas e dificuldades. Assim, cada encontro com uma terra diferente é uma experiência nova.
O quinto vale é o Vale da Unidade. O viajante experimenta nele que todos os seres são unos em essência, que toda variedade de idéias, experiências e criaturas da vida tem realmente uma só fonte.
O viajante chega ao Deserto do Medo. Então se esquece da existência de si mesmo e de todos os demais. Vê a luz, não com os olhos da mente, sim com os olhos do coração. A porta do divino tesouro, o segredo dos segredos, se abre. Nesta terra, o intelecto já não funciona. Aqui se pergunta ao viajante quem é e o que és, responde: “Não sei nada.”
Finalmente chega ao Deserto do Aniquilamento e da Morte. Neste ponto, o aspirante entende finalmente como uma gota se funde no oceano da unidade com o Amado. Tem encontrado o destino da viajem para encontrar ao rei.
Depois de ouvir a descrição da poupa sobre o que lhes espera, os pássaros se animam tanto que imediatamente continuam sua viajem.
No caminho alguns morrem pelo calor e se jogam no mar. Outros se cansam e não podem continuar; um grupo é caçado por animais selvagens e outros mais se distraem tanto pelo atrativo das terras que atravessam, que se perdem e ficam para trás. Só trinta alcançam seu destino: a montanha de Kaf.
No palácio real, o guarda da entrada trata cruelmente os trinta pássaros. Mas os pássaros, que têm passado o pior, são tolerantes e não se permitem sentir-se molestados por sua dureza. Finalmente, o servidor pessoal do rei sai e conduz os pássaros ao salão real. Ao entrar, os pássaros olham tudo assustados. Não sabem o que ocorre, porque no lugar de ver a Simurgh, “Trinta Pássaros”, tudo o que vêm é... Trinta Pássaros.
Finalmente compreendem que, olhando-se a si mesmos, têm encontrado ao rei, e que em sua busca do rei, têm encontrado a si mesmos.
Os que atravessam as sete cidades do amor se purificam. Quando chegam ao palácio real, encontram ao rei que se revela a seus corações.

"Fariduddin Attar"
(extraído do livro: História de la Tierra de los Sufíes)

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Lenda Persa






Há uma lenda persa que fala a respeito de um rei que carecia muito de um servidor. Dois homens se apresentaram e o rei os contratou por um salário fixo.

Depois de alimentados, voltaram à presença do soberano para ouvirem a respeito de suas tarefas...A primeira ordem foi que cada um pegasse uma cesta, colocando-a ao lado do poço. Iriam, alternadamente, tirando a água do poço e despejando-a dentro da cesta. No final do dia, o Rei, pessoalmente, iria apreciar o trabalho deles.

Depois de cinco ou seis baldes de água tirados e jogados na cesta, um dos contratados falou:
- Afinal, qual é o valor deste serviço? Quando lançamos a água dentro da cesta, ela se escoa imediatamente!

O outro, entretanto, respondeu:
- O rei certamente conhece a utilidade do nosso trabalho. Ele sabe o valor dele, do contrário não teria nos contratado.

- Pois não vou gastar as minhas energias na execução de uma tarefa assim. Dizendo isso, deixou de lado seu balde e partiu.

O outro homem, pacientemente, continuou o trabalho. O poço continha muita água, mas, sem desanimar, ele foi repetindo a operação até que conseguiu esgotá-lo.

Olhando atentamente para o seu fundo forrado de lodo, ele viu que havia lá um objeto, que brilhava intensamente. Era um valioso anel de diamantes!... e pensou: O meu esforço teve sua utilidade. Foi útil e necessário!

Na hora marcada, chegou o rei e lá encontrou um dos contratados fiel às suas ordens. E sua recompensa foi grande.

Muitas vezes, ao longo da vida, deparamos com tarefas penosas para serem realizadas e caminhos dificeis a serem palmilhados.

Somos, por vezes, tentados a pensar que o sacrificio não compensa e uma forte tendência de abandonar tudo e tomar novo rumo tenta apoderar-se de nós.

Entretanto, quando dominamos o desânimo e nos enchemos de coragem para chegar ao fim da responsabilidade, sempre descobrimos uma compensação e nos levantamos prontos para um novo embate.

O desânimo tem sido a arma mais poderosa que o inimigo usa para nos desviar do plano e do caminho traçado por Deus para a nossa vida.

Mosleh al-Din Saadi Shirazi


















SAADI (1184-1291)



"Aquele que aprende e não coloca em prática é como aquele que ara e não semeia"
Poeta persa. Nascido em Xiraz, estudou em Bagdad e transferiu-se para Isfahan, depois da invasão da pátria pelos mongóis. Passou então a correr mundo, entre 1226 e 1256. Depois da Índia, viveu em Damasco, como chefe árabe ou xeque, e, em Balbec, adquiriu fama de grande orador sacro. Retirou-se, depois, para o deserto, foi feito prisioneiro, até ser resgatado por um amigo rico, casando-se com a filha do benfeitor. Fez várias peregrinações a Meca, morrendo, em idade avançada, na cidade natal. É famoso por seu Divan, coleção de poesias líricas, e pelo Gulistan ("Jardim das Rosas"), contos morais, históricos e fantásticos, entrelaçados de trechos poéticos. Sua filosofia é que o divino está na natureza, e o poeta deve procurar as coisas com mais nitidez. No Gulistan há muitas anedotas, recordações e visões expressas com grande concisão e intenso amor da verdade.


(Fonte da biografia:- Enciclopédia Barsa)

Lenda Persa












Na Pérsia, a origem do vinho era também lendária: conta-se que um dia, quando o rei Djemchid se encontava refastelado à sombra da sua tenda, observando o treino dos seus arqueiros, foi o seu olhar atraído por uma cena que se desenrolava próximo: uma grande ave contorcia-se envolvida por uma enorme serpente, que lentamente a sufocava.
O rei deu imediatamente ordem a um arqueiro para que atirasse.
Um tiro certeiro fez penetrar a flecha na cabeça da serpente, sem que a ave fosse atingida.
Esta, liberta, voou até aos pés do soberano, e aí deixou cair umas sementes, que este mandou semear.
Delas nasceu uma viçosa planta que deu frutos em abundância.
O rei bebia frequentemente o sumo desses frutos.
Um dia, porém, achou-o amargo e mandou pô-lo de parte; alguns meses mais tarde, uma bela escrava, favorita do rei, encontrando-se possuída de fortes dores de cabeça, desejou morrer.
Tendo descoberto o sumo posto de parte, e supondo-o venenoso, bebeu dele.
Dormiu (o que não conseguia havia muitas noites) e acordou curada e feliz.
A nova chegou aos ouvidos do rei, que promoveu o vinho à categoria de bebida do seu povo, batizando-o Darou-é-Shah («o remédio do rei»).
Quando Cambises, descendente de Djemchid, fundou Persépolis, os viticultores plantaram vinhas em redor da cidade, as quais deram origem ao célebre vinho de Shiraz.
A vinha era objeto de enormes cuidados, e o mosto fermentava em grandes recipientes de 160 litros, os guarabares.
Foi este vinho que ajudou a dar coragem aos soldados de Cambises na conquista do fabuloso Egito!

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Nezami Ganjavi


















Nizami ou Nezami Ganjavi (نظامی گنجوی em persa, Nizami Gəncəvi em azeri)‎ (1141 – 1209), cujo nome completo é Nezam al-Din Abu Mohammad Elyas Ibn Yosouf Ibn Zaki Ibn Mo’ayyed Nezami Ganjavi, foi um poeta e escritor persa. É considerado, por excelência, o maior poeta épico de toda a literatura persa, trazendo para a epopéia um novo estilo coloquial e realista. Sua herança é amplamente apreciada por todo o mundo árabe.

Casou-se três vezes. A primeira esposa, Afaq, era uma jovem escrava Kipchak, e foi enviada a ele pelo comandante Fakhr al-Din Bahramshah como parte de um presente maior. Ela se tornou sua primeira e mais amada esposa. O único filho que Nizami teve foi da união com Afaq. Sua esposa morreu na mesma época em que havia sido concluída a obra "Khosrow e Shirin". Na época, Mohammed contava sete anos de idade. Inacreditável foi que as outras esposas de Nizami, para a sua tristeza, também morreram prematuramente. A morte de cada uma coincide com a conclusão de uma epopéia, incitando o poeta a dizer: "Allah, por que para cada mathnavi que concluo, tenho que sacrificar uma esposa?"




















A palavra que reténs dentro de ti é tua escrava. A que escapa de ti é tua senhora.
Provérbio Persa





















Mais outra aurora. Como em todas as manhãs,

deparo a beleza do mundo, e não posso agradecer:

há tantas rosas, tantos lábios. Vem minha amiga,

pousa o teu alaúde, os pássaros estão cantando.

Omar Khayyam

















Quando escurece podem ver-se as estrelas.
Provérbio Persa



















Aquele que criou o Universo e as estrelas

exagerou quando inventou a dor.

Lábios vermelhos como rubis, cabelos perfumados,

quantos sois no mundo?

Omar Khayyam






















Na verdade, somos uma só alma, tu e eu.
Nos mostramos e nos escondemos tu em mim, eu em ti.
Eis aqui o sentido profundo de minha relação contigo,
Porque não existe, entre tu e eu, nem eu, nem tu.

Rumi

A rainha Esther


















"O Rei amou Esther, mais do que a qualquer outra mulher; alcançando perante ele graça e benevolência.....ele (o Rei) pôs a coroa real sobre a sua cabeça e a fez rainha em lugar de Vashiti " (Livro de Esther cap.2: 17)



A rainha Esther é uma das sete profetizas do povo judeu e sua história é contada no Livro de Esther- popularmente chamado de "Meguila" - lido em Purim em todas as sinagogas . A história de Esther se passa durante o reinado de Assuero, rei da Pérsia, que, segundo Rashi, era Xerex , sucessor do rei Ciro e que governou o Império Persa durante os 70 anos de exílio do povo judeu.

O Livro de Esther conta que o rei Assuero costumava comemorar anualmente a data de sua ascensão ao trono com um suntuoso banquete no qual reunia em seu palácio todos seus súditos : ministros, servos, nobres, militares dos exércitos da Pérsia e da Média. A tradição conta que o palácio era tão grande, que abrigava milhares de convidados com seus servos e empregados. Nenhum convidado bebia duas vezes na mesma taça .O vinho servido tinha sempre um ano a mais que o convidado a quem era destinado e era produzido por vinhedos de seu próprio país. No terceiro ano de seu reinado, mensageiros - falando as 70 línguas conhecidas na época- foram enviados por todo o reino para convidar para mais uma festa que costumava durar 180 dias .

Num deste dia após uma discussão entre os persas e medos, sobre qual dos dois povos teria as mais belas mulheres, Assuero quis mostrar aos convidados que sua mulher, a rainha Vashti, originária da Caldéia, era a mais bela entre todas as mulheres. Mandou, então, buscá-la e para mostrar sua lendária beleza, pediu, publicamente, que viesse completamente nua, usando somente a coroa real. Mas, Vashti se recusou a comparecer da forma pedida suscitando a ira do rei. Assuero, então, consultou seus ministros sobre o que fazer com a rainha.

Estes afirmaram que a rainha Vashti não só se rebelou e ofendeu o rei, mas também aos príncipes presentes à comemoração. O rei não poderia deixá-la impune, pois se o fato se tornasse do conhecimento das outras mulheres elas poderiam seguir o exemplo e desobedecer aos maridos. O rei, então, repudia Vashti e manda executá-la, incumbindo seus ministros de encontrar candidatas de igual beleza para sucedê-la.

Os ministros mandaram trazer de todas as partes do reino, mesmo dos lugares mais distantes, todas as mulheres jovens e bonitas, não importando se eram casadas ou solteiras. Os delegados reais de cada região reuniam-nas, às vezes, contra própria vontade e o rei mandava buscá-las e levá-las ao palácio real.

Em Shushan, a capital do Império Persa, havia um judeu da tribo de Benjamim que se chamava Mordechai, que acolhera em sua casa sua sobrinha Hadassa, após a morte dos pais.

Hadassa que passou para nossa historia pelo nome de Esther era uma linda moça a quem Mordechai criara como se fosse sua própria filha.

Alguns sábios acreditam que o nome Esther foi acrescentado mais tarde e significa "a escondida" ou "aquela que esconde", pois ela ocultou sua religião perante o rei, seu marido, durante muito tempo.

Arte Persa






















Trabalho de Lourdes Abraços (Vaso persa)


"Se uma rosa de amor tu guardaste,
Bem no teu coração;
Se a um Deus supremo e justo endereçaste
Tua humilde oração;
Se com a taça erguida
Cantaste, um dia, o teu louvor à vida
Tu não viveste em vão..."

Omar Khayyam


Kamar Az-Zaman e a Princesa Budur


Conta-se que havia na Pérsia, em tempos idos, um rei chamado Chahriman, dono de exércitos e riquezas e poder, que tinha um filho tão lindo que o chamou Kamar Az-Zaman, Lua do Tempo. Um dia, o pai disse-lhe: "Meu filho, desejaria ver-te casado e provido de descendentes que continuarão nossa linhagem." Kamar Az-Zaman mudou de cor e respondeu: "Pai, não sinto inclinação para o casamento, e meu coração não se regozija na companhia das mulheres. Li nos livros dos sábios tantas crônicas sobre a perfídia desse sexo que prefiro morrer a viver com uma mulher." Aconselhado pelo vizir, o rei deixou passar um ano antes de voltar ao assunto. Mas quando a ele voltou, achou o filho tão oposto ao casamento quanto antes. "Como estão iludidos os pais quando desejam filhos," lamentou o rei. "Pois um filho é uma decepção e uma mágoa encarnadas." Ora, vivia na mesma época um rei da China chamado Ghayur que tinha uma filha mais esplêndida que a aurora e que ele chamou Budur, Luas - diversas luas reunidas numa só. Amava-a tanto que mandara construir para ela sete palácios, cada qual diferente dos outros: o primeiro era de cristal; o segundo, de mármore; o terceiro, de ferro chinês; o quarto, de pedras preciosas; o quinto, de prata; o sexto, de ouro; e o sétimo, de jóias. Disse um admirador: "Vi a jovem passeando em seus palácios; será surpreendente que tenha perdido a razão?" Todos os reis procuraram essa beleza incomparável para seus filhos; mas cada vez que o pai Ihe falava em casamento, Budur respondia: "Sou a rainha e a dona de mim mesma. Como pode meu corpo, que mal agüenta o toque da seda, tolerar o contacto rude de um homem`?" Quando seu pai insistia, ela ameaçava matar-se. Para castigar a desobediência do filho, o rei Chahriman o tinha condenado a viver numa torre antiga abandonada, atrás da qual havia um poço onde se refugiara uma jovem Afrita da descendência de Ibliss, chamada Maimuna. Era a filha de Dimiryat, rei dos gênios subterrâneos. Uma noite, Maimuna avistou luzes na torre inabitada e, curiosa, quis ver o que lá acontecia. Voou e entrou nos aposentos iluminados e viu Kamar Az Zaman deitado seminu na cama. As palavras não conseguem descrever sua surpresa e alegria. Ela nunca havia visto beleza igual. Ficou uma hora a contemplá-lo, depois depositou beijos delicados em seus lábios, olhos, faces e saiu descontrolada. Cruzou na saída com o Afrit Dachnack, que chegava da China onde ficara deslumbrado com a beleza da princesa Budur. Contou sua aventura a Maimuna. Maimuna recebeu suas confidências com escárnio: "Tuas observações acerca dessa jovem desgostam-me. Como ousas compará-la ao jovem que eu amo? Ele é tão lindo que, se o visses apenas em sonho, cairias como um epilético e roncarias como um camelo." Para pôr fim à discussão, os dois gênios decidiram visitar os dois jovens e comparar-Ihes a beleza. Apostaram mil dinares no vencedor. Maimuna levou então o Afrit até o aposento de Kamar Az-Zaman, e ele disse: "Maimuna, compreendo teu entusiasmo. Nunca vi, com efeito, tantas perfeições reunidas num só jovem; contudo, digo-te que o molde em que o fabricaram foi usado para produzir uma cópia feminina, que é a princesa Budur, filha de Ghayur." Maimuna ficou furiosa e disse ao Afrit: "Voa rápido e traze a tal maravilha para cá, a fim de que possamos colocar os dois jovens lado a lado e compará-los." Dachnack apanhou seu chifre e sumiu no espaço como uma flecha. Uma hora depois, estava de volta carregando a princesa adormecida, vestida com uma simples camisola. E os dois feiticeiros levaram-na e estenderam-na ao lado do príncipe Kamar Az-Zaman. Maimuna teve que admitir que os dois eram iguais - menos nas partes que fizeram deles homem e mulher. Assim mesmo, cada Afrit afirmava ter ganho a aposta e, para resolver sua divergência, decidiram recorrer a um árbitro. Imediatamente apareceu um Afrit de horrível feiúra. Tinha seis chifres e três caudas; um de seus braços media dez metros de comprimento; o outro, apenas dois. E seu zib era quarenta vezes maior que o zib de um elefante. Seu nome era Fakrach Ibn Atrach, da linha de Abu-Hanfach. Convidado a indicar o mais belo dos dois, o gênio contemplou-os longamente e, constrangido, reconheceu: "Por Alá são iguais em beleza. A única diferença entre eles refere-se ao sexo. Se assim mesmo insistirem em descobrir alguma superioridade num deles, acordemo-los, enquanto permanecemos invisíveis, e aquele dos dois que manifestar maior paixão pelo outro terá reconhecido que os encantos do outro são mais poderosos." Os três concordaram e Dachnack, transformando-se numa pulga, mordeu Kamar Az-Zaman no pescoço. Kamar Az Zaman, meio-acordado após a irritação de seu pescoço, deixou a mão cair, e ela pousou na perna nua de Budur. O jovem abriu os olhos, mas eles voltaram logo a fechar-se, ofuscados que foram pela visão da beleza. Encantado, levantou a cabeça e contemplou longamente a desconhecida que dormia a seu lado. Depois, virou-se e exclamou: "Que traseiro glorioso E começou a acariciar-lhe o ventre, os seios, as pernas, as nádegas.
Devemos acrescentar que fora Dachnack quem provocara um sono profundo em Budur para permitir ao jovem manipulá-la à vontade. Kamar Az-Zaman aplicou seus lábios nos de Budur e procurou acordá-la, mas em vão. Concluiu: "Não posso esperar. Devo penetrar nela enquanto dorme." Mas pensou de repente que provavelmente o pai mandara colocar a jovem lá para provocá-lo, e que ele estava observando-o de algum esconderijo. Se tocasse nela, o pai o censuraria por não querer mulher para assegurar a sua posteridade, enquanto a queria para o divertimento e o vício. Virou, pois, as costas e voltou a dormir. Budur acordou finalmente e, já apaixonada por Kamar Az Zaman, pediu-lhe: "Por favor, abre os olhos, ó mestre da beleza. Só tu conseguiste acender um fogo em mim. Oh, por que não acordas? Acorda, senão vou morrer." E começou a acariciá-lo. De repente, sua mão tocou em algo que ela não conhecia. E a coisa começou a crescer em sua mão e a provocar nela novas sensações. Comparando seus dois corpos, compreendeu o papel daquele órgão e introduziu-o onde cabia. Os três Afarit acompanhavam tudo isso sem perder um gesto. Deixaram a operação chegar ao fim, depois aproximaram-se da cama, levantaram a moça sobre as espáduas, voaram com ela e a depositaram em sua cama no palácio de seu pai na China. E foram embora em direcções diferentes. Pela manhã, Kamar Az-Zaman acordou, a mente cheia das imagens da noite. Não encontrando a moça, teve a certeza de que se tratava de uma manobra do pai para levá-lo a casar-se. Chamou seu escravo e perguntou-lhe: "Aonde levaste a jovem, ó Sauab?" "Que jovem, meu senhor?" perguntou o escravo. "Hoje, não agüento tuas mentiras, velhaco abominável" retrucou Kamar Az-Zaman. Apanhou o escravo, estendeu-o no chão e pôs-se a bater nele, dizendo: "Vou bater em ti até que confesses onde está a jovem ou até que morras." Uma vez coberto de sangue e tendo um braço quebrado, o escravo gritou: Por favor, para de bater em mim, e confessarei tudo." Assim que o príncipe parou de bater nele, o escravo pediu licença para ir lavar o sangue e aproveitou para correr ao palácio e dizer ao rei, chorando, que Kamar Az-Zaman tinha enlouquecido. E descreveu ao rei e ao vizir as alucinações que presenciara.O rei, após insultar o vizir, responsabilizando-o por tudo, mandou-o verificar o que se passava. Kamar Az-Zaman, considerando o vizir de conluio com seu pai, naquela farsa, exigiu dele que lhe trouxesse a moça. Como o vizir negava tudo, o príncipe bateu nele também e lhe arrancou fios da barba. E o ministro voltou à presença do rei num estado lamentável, repetindo que Kamar Az-Zaman tinha enlouquecido. Insultando o novamente, o rei correu à torre para ver o filho. Achou-o tranqüilo, lendo o Alcorão. "Meu filho, disse o rei, por incrível que pareça, esse nojento escravo e esse vizir maluco alegam que enlouqueceste, pois os acusas de ter levado uma mulher que dormiu contigo aqui à noite." - Pai, respondeu o filho, não agüento mais essa farsa. Tenho provas do que digo. Primeiro, este anel que ela me deu em troca do meu. Depois, quando acordei, tinha sangue embaixo do umbigo, o sangue da virgem que se entregara a mim. A água com que lavei o sangue está ainda no banheiro. Fiquei tão apaixonado por ela que, se não conseguir encontrá-la e casar-me com ela, ó pai, ficarei doente até morrer. O rei examinou a água e convenceu-se da veracidade das palavras ao filho, mas não conseguia penetrar o mistério e muito menos adivinhar quem era a moça e onde procurar por ela. E o filho foi definhando. Na China, a noite estava acabando quando os três Afarit devolveram a dama Budur a seu leito. Ao acordar pela manhã, sorriu e com os olhos ainda fechados estendeu os braços para apertar seu amante, mas só abraçou o ar. Não encontrando ninguém na cama, emitiu um grito tão agudo que sua governanta e suas nove escravas acorreram para junto dela. "O que aconteceu, minha ama?" perguntou a governanta. - Perguntas como se não soubesses, astuciosa bruxa. Dize-me logo onde está o jovem mais belo que a lua que passou a noite comigo e a quem entreguei meu corpo, meu coração e minha virgindade. Essa declaração causou tamanho escândalo que toda a corte foi perturbada. O rei acorreu aos aposentos da filha e disse-lhe: "Minha querida, que alucinações tomaram conta de ti? Por que essa conduta indecorosa?" Por resposta, Budur rasgou a camisa, do pescoço até os pés, bateu nas faces e afundou num mar de lágrimas. O rei chamou então todos os sábios, astrólogos, doutores e alquimistas do reino e disse-lhes: "Minha filha Budur está em tal e tal estado. Quem conseguir curá-la a terá por esposa e herdará o trono depois de mim. Mas se aproximar dela sem a curar, terá a cabeça cortada." Ora, a princesa Budur tinha um irmão de leite, Marjan, que havia estudado a magia e a feitiçaria em livros hindus e egípcios. Visitou-a em segredo, munido de um astrolábio, de livros mágicos e de uma lâmpada, e entendeu que Budur estava apaixonada por um jovem desconhecido, e não tinha nada mais. O único problema era descobrir o jovem. Marjan, que amava a irmã, decidiu tudo abandonar e percorrer os países na esperança de localizar, por um acaso feliz, o homem que lhe devolveria a alegria de viver. Para ajudá-lo nas buscas, Budur entregou-lhe o anel de Kamar Az-Zaman que lhe ficara no dedo. Marjan viajou de cidade em cidade e de ilha em ilha, ouvindo em toda parte notícias e rumores sobre a estranha alienação mental da princesa Budur. Seis meses depois, chegou à terra de Kholidan e lá começou a ouvir a história de Kamar Az-Zaman, vítima de alucinações que pareceram a Marjan similares às da princesa Budur. Um dia, encontrou-se com o vizir do rei Chahriman, o qual, conversando com ele, ficou impressionado com seus conhecimentos em todos os campos, notadamente na medicina, e pensou: "Este moço será sem dúvida capaz de curar o filho de meu soberano." E convidou-o a visitar o palácio real. Na primeira entrevista que teve com Kamar Az-Zaman, Marjan convenceu-se de que ele era o jovem que sua irmã de leite procurava e que ela era a jovem que o príncipe procurava. Mostrou a Kamar Az-Zaman o anel de Budur. No mesmo instante, o príncipe curou-se completamente, e as cores da juventude voltaram-lhe às faces. Sem pedir licença ao rei, os dois jovens iniciaram imediatamente a viagem rumo à terra da princesa Budur. Quando lá chegaram, havia já quarenta cabeças penduradas na praça pública - as cabeças daqueles que haviam tentado curar a princesa sem o conseguir. Na entrada do palácio da princesa, os eunucos encarregados da segurança olharam com pena para esse novo pretendente, tão belo e que breve iria ter a cabeça cortada. Mas ele apanhou um papel e escreveu: "De Kamar Az-Zaman, filho do sultão Chahriman, para a princesa Budur, filha do rei Ghayur. Se tivesse que descrever toda a paixão de meu coração, não haveria bastante tinta no mundo. Contudo, se a tinta faltar, meu sangue escreverá o resto. Com esta mensagem, envio-te teu anel como prova indiscutível de que sou o jovem cujo coração transformaste em incêndio e em tempestade e que chora e clama por ti. Kamar Az-Zaman" O príncipe colocou o bilhete e o anel num envelope, selou-o e entregou-o ao eunuco. O escravo transmitiu-o a sua ama, dizendo: "Há um jovem astrólogo atrás da cortina, tão audacioso que alega ser capaz de curar as pessoas sem as ver. Enviou-te este papel." Mal a princesa abriu o envelope e reconheceu seu anel, gritou de alegria e, empurrando o eunuco, correu até o amante e lançou-se nos seus braços. Beijaram-se como dois pombos que havia sido separados pela maldade do destino O eunuco correu a informar o rei: ‘ aquele jovem astrólogo é mais sábio que todos eles. Curou a princesa Budur antes mesmo de a ter visto." O rei foi ao aposento da filha e, vendo que estava de fato curada, beijou-a entre os olhos, abraçou Kamar Az-Zaman e perguntou-lhe de onde vinha. "Venho de Kholidan. Sou o filho do rei Chahriman." E contou toda a
história. - Por Alá, comentou o rei, essa história é tão maravilhosa que se fosse escrita com uma agulha no canto interno dos olhos, ensinaria a prudência, a reflexão, mas também a audácia e a esperança. Mandou vir o cádi e as testemunhas e fez redigir o contrato de casamento entre Budur e Kamar Az-Zaman. A cidade foi decorada e iluminada durante sete dias e sete noites. O povo comeu, bebeu e se regozijou. E os dois enamorados amaram-se à vontade no meio dos festejos, agradecendo Àquele que os tinha feito um pelo outro. Numa noite, Kamar Az-Zaman viu seu pai num sonho, dizendo-lhe: "É assim que me abandonas, ó Kamar Az-Zaman? Vê , estou morrendo de saudade." Quando acordou, disse à princesa Budur: `Amanhã devemos tomar o caminho de meu reino onde meu pai está doente. Apareceu-me em sonho, e está esperando por mim, chorando." - Ouço e obedeço, disse Budur com meiguice. E logo foi procurar o rei. "Pai, disse-lhe, solicito tua compreensão para que acompanhe meu marido à terra de seus pais." - Não tenho objeção, respondeu o rei, desde que nos venhais visitar de ano em ano. A princesa beijou a mão do pai, agradeceu-lhe a bondade e chamou Kamar Az-Zaman, que fez o mesmo. Depois, viajaram até o reino de Chahriman onde foram recebidos com grandes festejos e regozijos. Cada ano, Budur, acompanhada do marido, ia visitar os pais. E todos viveram em perfeita harmonia até seu ultimo dia.

Majun volta para casa

















Estou enamorado, Pai.
Sou este que retorna, em trapos.
No longínquo instante em que rasguei o peito, eu tentei enchê-lo com as dádivas do mundo.
Quando, há muito tempo, me apoiei na janela do vazio, saí, colhendo nada do caminho.
Deixei-te pelas coisas, pai, e volto, sem saber de mim.
Um dia, estando com outros viajantes, entrei na roda que dançava.
Festejavam bodas da colheita. Pude perceber, na luz estreita, os olhos que me escravizaram.
Nunca mais dos meus se apagaram.
E enquanto cantava, inebriado, o poeta, à musa pretendida, o meu coração também cantava, minh’alma dançava enlouquecida. Neste instante, ao centro, ó Deus, miragem? Eis, assoma a vida da minha vida! Ao tempo que ria eu pranteava, pois no seu olhar eu me encontrava, a face encoberta por tiara e guizos.
Quanto mais a via mais a amava, tanto mais me dava mais perdia o meu próprio eixo, em rodopios.
Ó amor sem tino, desalento, sendo o mel mais doce mais maltrata, e de mim se afasta, se aproximo.
Transitei em torno de mim mesmo. E saí, sem rumo, do roteiro, a buscar, por fora, o que está dentro.
Mendiguei nas ruas do inferno; fui pedinte, algoz e prisioneiro. Fui sultão, filósofo, bandido. Em nenhuma posição venci, vencido. O que hei de ter, se está perdido o bem precioso que não tenho?
O menor dos homens eu me sinto, estando no trono ou no jazigo. De que vale o aroma, se não traz a flor consigo?
Estou enamorado, pai. E a ti retorno, maltrapilho. Tudo que não trago não foi tido. De algum modo, sei que está contigo, chave, reino e todo o tesouro. Sei também que, sob guizos, hei de ter, do amor enlouquecido, o amor de Laila aqui, comigo.

Nezami Ganjavi
























Volta e meia, Nasrudin atravessava a fronteira entre a Pérsia e a Grécia montado no lombo de um burro. Toda vez passava com dois cestos cheios de palha e voltava sem eles, arrastando-se a pé. Toda vez o guarda procurava por contrabando. Nunca encontrou.
"O que é que você transporta, Nasrudin?"
"Sou contrabandista."
Anos mais tarde, com uma aparência cada vez mais próspera, Nasrudin mudou-se para o Egito. Lá encontrou um daqueles guardas de fronteira.
"Diga-me, Mullá, agora que você está fora da jurisdição grega e persa, instalado por aqui nesta vida boa - o que é que você contrabandeava, que nunca conseguimos pegar?"
"Burros."


Nasrudin

Escuta a flauta de bambu...

























Escuta a flauta de bambu, como se queixa,
Lamentando seu desterro:
"Desde que me separaram de minha raiz,
Minhas notas queixosas arrancam lágrimas de homens e mulheres.
Meu peito se rompe, lutando para libertar meus suspiros,
E expressar os acessos de saudade de meu lugar.
Aquele que mora longe de sua casa
Está sempre ansiando pelo dia em que há de voltar.
Ouve-se meu lamento por toda a gente,
Em harmonia com os que se alegram e os que choram.
Cada um interpreta minhas notas de acordo com seus sentimentos,
Mas ninguém penetra os segredos de meu coração.
Meus segredos não destoam de minhas notas queixosas,
E, no entanto não se manifestam ao olho e ao ouvido sensual.
Nenhum véu esconde o corpo da alma, nem a alma do corpo,
E, no entanto homem algum jamais viu uma alma”
O lamento da flauta é fogo, e não puro ar.
Que aquele que carece desse fogo seja tido como morto!
É o fogo do amor que inspira a flauta,
E o amor que fermenta o vinho.
A flauta é confidente dos amantes infelizes;
Sim, sua melodia desnuda meus segredos mais íntimos.
Quem viu veneno e antídoto como a flauta?
Quem viu consolador gentil como a flauta?
A flauta conta a história do caminho, manchado de sangue, do amor,
Conta a história das penas de amor de Majnun.
Ninguém sabe desses sentimentos senão aquele que está louco,
Como um ouvido que se inclina aos sussurros da língua.
De pena, meus dias são trabalho e dor,
Meus dias passam de mãos dadas com a angústia.
E, no entanto, se meus dias se esvaem assim, não importa,
Faz tua vontade, ó Puro Incomparável!
Mas quem não é peixe logo se cansa da água;
E àqueles a quem falta o pão de cada dia, o dia parece muito longo;
Assim o "Verde" não compreende o estado do "Maduro";
Portanto cabe a mim abreviar meu discurso.
Levanta-te, ó filho! Rompe tuas cadeias e se livre!
Quanto tempo serás cativo da prata e do ouro?
Embora despejes o oceano em teu cântaro,
Este não pode conter mais que a provisão de um dia.
O cântaro do desejo do ávido nunca se enche,
A ostra não se enche de pérolas até a saciedade;
Somente aquele cuja veste foi rasgada pela violência do amor
Está inteiramente puro, livre de avidez e de pecado.
A ti entoamos louvores, ó Amor, doce loucura!
Tu que curas todas as nossas enfermidades!
Que és médico de nosso orgulho e presunção!
Tu que és nosso Platão e nosso Galeno!
O amor eleva aos céus nossos corpos terrenos,
E faz até os montes dançarem de alegria!
Ó amante, foi o amor que deu vida ao Monte Sinai,
Quando "o monte estremeceu e Moisés perdeu os sentidos".
Se meu Amado apenas me tocasse com seus lábios,
Também eu, como a flauta, romperia em melodias.
Mas aquele que se aparta dos que falam sua língua,
Ainda que tenha cem vozes, é forçosamente mudo.
Depois que a rosa perde a cor e o jardim fenece,
Não se ouve mais a canção do rouxinol.
O Amado é tudo em tudo, o amante, apenas seu véu;
Só o Amado é que vive, o amante é coisa morta.
Quando o amante não sente mais as esporas do Amor,
Ele é como um pássaro que perdeu as asas.
Ai! Como posso manter os sentidos,
Quando o Amado não mostra a luz de Seu semblante?
O Amor quer ver seu segredo revelado,
Pois se o espelho não reflete, de que servirá?
Sabes por que teu espelho não reflete?
Porque a ferrugem não foi retirada de sua face.
Fosse ele purificado de toda ferrugem e mácula,
Refletiria o brilho do Sol de Deus.
Ó amigos, ouvi agora esta narrativa,
Que expõe a própria essência de minha situação.

Rumi

segunda-feira, 12 de outubro de 2009


















Se busco meu coração, o encontro em teu quintal,
Se busco minha alma, não a vejo a não ser nos cachos de teu cabelo.
Se bebo água, quando estou sedento
Vejo na água o reflexo do teu rosto.

Rumi

domingo, 11 de outubro de 2009

O Turbante de Nasrudin






Nasrudin apareceu na corte
com um magnífico turbante,
pedindo dinheiro para caridade.

- você veio me pedir dinheiro,
e está usando um ornamento muito caro na cabeça.
Quanto custou esta peça extraordinária?
- perguntou o soberano.
- Quinhentas moedas de ouro
- respondeu o sábio sufi.

O ministro sussurrou:
"É mentira.
Nenhum turbante custa esta fortuna".

Nasrudin insistiu:

- Não vim aqui só para pedir,
vim também para negociar.

Paguei tanto dinheiro pelo turbante,
porque sabia que, em todo o mundo,
apenas um soberano seria capaz de compra-lo
por seiscentas moedas, para que eu pudesse
dar o lucro aos pobres.

O sultão, lisonjeado, pagou
o que Nasrudin pedia.
Na saída, o sábio comentou com o ministro:

- Você pode conhecer muito bem
o valor de um turbante, mas sou eu
quem conhece até onde a vaidade
pode levar um homem.

Nasrudin e o Varal


Um vizinho bateu à porta do Nasrudin e pediu:

- Nasrudin, você me empresta o varal de secar roupa que o de lá de casa se quebrou?
- Um momento, disse Nasrudin - vou perguntar à minha mulher.

Momentos depois Nasrudin voltou e disse para o vizinho:

- Desculpe vizinho, mas não vou poder emprestar o varal pois minha mulher está secando farinha nele.

O vizinho, surpreso, exclamou:

- Mas Nasrudin, secando farinha no varal??!!

E Nasrudin respondeu:

- É... quando não se quer emprestar o varal, até farinha se seca nele...

Nasrudin e o juíz


Certo dia, um juiz perguntou ao mestre Nasrudin:

- Mestre, no caso de você ter de escolher entre a justiça e o dinheiro, o que você escolheria?
- O dinheiro, é claro - respondeu Nasrudin, sem pestanejar.
- O quê! - disse o juiz. Pois eu escolheria a justiça sem pensar duas vezes, porque a justiça não é fácil de ser encontrada, enquanto o dinheiro, este não é tão raro assim. Podemos encontrá-lo por aí sem grandes dificuldades. Estou sinceramente espantado com a sua opção, Nasrudin. Não o julgava capaz de uma ambição, sendo um mestre!
- Meritíssimo, cada um deseja aquilo que mais lhe falta! - respondeu tranqüilamente o mestre Nasrudin.

Nasrudin

























Nasrudin (também chamado Nasreddin, Nasr ud-Din, Nasredin, Naseeruddin Nasruddin, Nasr Eddin, Nastradhin, Nasreddine, Nastratin e Nusrettin), filósofo e sábio popular, é uma lendária figura sufi que teria vivido na Idade Média. Nasrudin hoje é lembrado por seus ensinamentos transmitidos através de histórias divertidas e anedotas, aparecendo em vários ditados de tradição persa, árabe, pashtu, urdu e turca. Embora ambientadas num cenário de vilarejo medieval, suas histórias lidam com conceitos atemporais, até hoje sendo contadas no mundo todo e traduzidas para diversos idiomas. As ações de Nasrudin são paradoxalmente lógicas e ilógicas, bizarras e triviais, ingênuas e espirituosas, simples e profundas, o que as torna ainda mais interessantes, especialmente pela forma não convencional - ainda que extremamente efetiva - com a qual ele passa suas mensagens.

O Mullá Nasrudin (Khawajah Nasr Al-Din) escreveu, no século XIV em que viveu, histórias onde ele mesmo era personagem. São histórias que atravessaram fronteiras desde sua época, enraizando-se em várias culturas. Elas compõem um imenso conjunto que integra a chamada Tradição Sufi, ou o Sufismo, seita religiosa ou de sabedoria de vida, de antiga tradição persa e que se espalha pelo mundo até hoje. Como o budismo e o zen-budismo, o sufismo sempre aliou o (bom) humor com sabedoria.

Mitologia Persa



A mitologia persa cita vários dragões como Azi Dahaka que atemorizava os homens, roubava seu gado e destruía florestas.(e que provavelmente foi uma alegoria mística da opressão que a Babilônia exerceu sobre a Pérsia na antiguidade clássica). Os dragões da cultura persa, de onde aparentemente se originou a idéia de grandes tesouros guardados por eles e que poderiam ser tomados por aqueles que o derrotassem, hoje tema tão comum em histórias fantásticas.















- Vem ao jardim na primavera, disseste.
- Aqui estão todas as belezas, o vinho e a luz.
Que posso fazer com tudo isso sem ti?
E, se estás aqui, para que preciso disso?


Rumi





Vem,
Te direi em segredo
Aonde leva esta dança.

Vê como as partículas do ar
E os grãos de areia do deserto
Giram desnorteados.

Cada átomo
Feliz ou miserável,
Gira apaixonado
Em torno do sol.


Rumi



















"Quem viu consolador gentil como a flauta?
A flauta conta a história do caminho, manchado de sangue de amor.
Conta a história das penas de amor de Majnun.*
(,,,) Toda noite, espíritos são libertados dessa jaula,
E tornados livres, sem comandar nem ser comandados.
De noite, o prisioneiro não tem consciência de sua prisão,
De noite o rei não tem consciência de sua majestade.
(...) O Califa disse a Laila (noite): "Tu és realmente aquela
Por quem Majnun perdeu a cabeça e a razão?
Tu não és mais bela do que muitas outras."
Ela respondeu: "Cala-te, tu não és Majnun!
Se tivesses os olhos de Majnun,
Tua visão abarcaria os dois mundos.
Tu estás em teu juízo, mas Majnun tem o seu perdido.
Quando se está apaixonado, estar desperto é traição."


JALLUDIN RUMI

















"Duas coisas indicam fraqueza: calar-se quando é preciso falar, e falar quando é preciso calar-se!"
Provérbio Persa

Djalal ad-Din Rûmi
























Djalal ad-Din Rûmi nasceu em setembro de 1207, onde hoje está o Afeganistão. Rumi é considerado o maior poeta persa de todos os tempos. Sua vasta obra, composta por 70.000 versos, é comparada pelos estudiosos à grandiosidade de Shakespeare, Dante e Beethoven.


Rumi fala de amor, mas não desse amor pequeno e fugaz que testemunhamos nas relações de hoje. A obra de Rumi fala de um amor maior. Um amor maior que a Terra, mais profundo que o oceano, mais quente que o sangue que corre em todas as veias. Rumi fala de um amor espiritual, um amor que transcende o tempo, a vida e a morte.

Mulá e Ulemá


São as pessoas que estudaram o Islamismo e viraram autoridade no assunto: professores, teólogos e advogados. O termo mulá, do árabe muwla, que significa senhor ou chefe, é usado no Irã pelos xiitas. Ulemá, de ulama, os que possuem conhecimento, são da linha sunita.
















Xá: Titulo antigo usado pelos persas, atual Irã, para designar o rei, chefe maior. Após a revolução iraniana o termo "Xá" foi substituído pelo termo "Aiatolá"

Ali Babá e os Quarenta Ladrões


















Era uma vez um jovem chamado Ali Babá. Ele viajava pelo reino da Pérsia levando e trazendo notícias para o rei.

Numa das viagens, enquanto descansava,ouviu vozes. Subiu numa árvore e viu quarenta ladrões diante de uma enorme pedra. Um deles adiantou-se e gritou: ''Abre-te Sésamo!''

A enorme pedra se moveu, mostrando a entrada de uma caverna, os ladrões entraram e a pedra fechou-se.
Quando os ladrões saíram, Ali Babá resolveu experimentar e gritou para a pedra: ''Abre-te Sésamo!''

A enorme pedra se abriu e Ali Babá entrou na caverna. Viu um imenso tesouro e carregou o que pôde no seu cavalo e partiu direto em direção ao palácio para pedir a filha do sultão, por quem estava apaixonado há muito tempo, em casamento. Quando o sultão viu o dote,aceitou imediatamente.

Ali Babá ficou muito feliz e resolveu contar para todos que ia se casar. Mas para isso precisava comprar um palácio para a sua princesa. Voltou à pedra e falou: ''Abre-te Sésamo!''

Um dos ladrões estava escondido e viu Ali Babá sair da caverna carregando o tesouro. O ladrão foi contar aos outros o que viu e decidiram pegá-lo. Com as jóias, Ali Babá comprou um palácio para sua amada e avisou a todos que daria uma festa no dia do seu casamento.

Os ladrões, sabendo da festa, enfiaram-se em tonéis de vinho vazios para atacar Ali Babá à meia-noite, quando estivesse dormindo. A festa foi tão alegre que o vinho acabou. Ali Babá então, foi à adega verificar se havia mais e, sem querer, escutou um susurro: ''Já deu meia-noite?'' perguntou um dos ladrões.

''Já, mas esperem a festa acabar! Aí vamos pegar aquele que está usando o nosso tesouro.''

Voltando à festa, Ali Babá disse: ''O vinho estragou e preciso de ajuda para levá-lo daqui.''

Alguns guardas ajudaram a levar os tonéis até um despenhadeiro. ''Vamos jogá-los lá em baixo'', disse Ali Babá.

Ao perceber que seriam jogados, os quarenta ladrões entregaram-se aos guardas. Com os ladrões presos, Ali Babá ficou com o tesouro. E a princesa e ele viveram felizes para sempre com a fortuna encontrada.

Simbad O Marujo




Simbad, o marujo é o nome de uma lendária história de origem persa sobre um marinheiro, durante o Califado Abássidas, que tem numerosas e fantásticas aventuras durante suas viagens através dos mares orientais da África e sul da Ásia. A coleção dos contos que compôem "the Seven Voyages of Sinbad the Sailor" (As Sete Viagens de Simbad)
Enredo
No enredo, Simbad, após ter concluído suas sete viagens, tornou-se um próspero comerciante de Bagdá. Certo dia, vem passando pela rua em frente a sua casa um pobre carregador de mercadorias chamado Hindbad, falando com um dos criados da maravilhosa casa, que se lamenta da sorte e questiona porque Simbad foi abençoado com riqueza,enquanto ele padece no trabalho braçal. Simbad escuta as queixas do homem e decide contar-lhe suas aventuras para que se justifique porque alcançou tal fortuna.

Aladim e Lâmpada Mágica




















Aladim (uma corruptela do nome 'Alā 'ad-Dīn – do árabe علاء الدين, e que significa "nobreza da fé" – Aladdin, Aladdim ou ainda Aladino, em Portugal) é um personagem do conto Aladdin e a Lâmpada Maravilhosa, do ramo sírio de As Mil e uma Noites, e descrito como um malandro.

O conto possui variadas edições, mas a maioria delas preserva o teor central do enredo. Na versão do francês Antoine Galland, que inspirou as variadas traduções nos diferentes idiomas no Ocidente, o protagonista Aladim é descrito como um jovem adolescente que se recusa a aprender o ofício do pai, que é alfaiate, sendo descrito por sua mãe como imaturo, "esquecido que não é mais criança". Mesmo depois da morte do pai, quando tinha quinze anos, ele não se modifica – é travesso e prefere brincar a trabalhar. Por este motivo, é também descrito como mau e desobediente.

Aladim mantém-se despreocupado com uma definição para sua vida até ter um encontro com um feiticeiro ou mágico, que o procurava. Este encontro foi determinante para modificar sua trajetória. O mago, possuidor de muitos poderes e capaz de realizar muitos feitos, procura Aladim como um auxiliar eficaz para concretização de uma meta específica – obter uma "lâmpada maravilhosa", uma lamparina semelhante àquelas utilizadas na iluminação doméstica, mas que continha um "gênio" (em árabe djin) que a habitava e que era capaz de realizar todo e qualquer desejo a ele dirigido. A lamparina com o gênio era para o mago um recurso mágico que lhe daria mais poderes e que lhe permitiria realizar os desejos irrestritamente; mas ela estava guardada no interior de um jardim encantado, em uma espécie de gruta ou caverna, que continha muitas jóias e moedas de ouro.

O mago pede a Aladim que entre na caverna misteriosa para retirar de lá a lâmpada e, em troca, lhe oferece uma fortuna. Aladim entra na caverna e pega a lâmpada, mas o mago tenta ludibriá-lo na saída da gruta, e ele acaba preso na caverna com a lâmpada. O gênio que habitava a lâmpada se manifesta após um gesto acidental de esfregá-la, e concede a Aladim a realização de seus pedidos, que são todos consumados. Um dos desejos de Aladim foi o de se tornar um príncipe e desposar a princesa, filha do sultão. Ao transformar radicalmente sua realidade pessoal tornando-se príncipe, transforma-se em adulto, casa-se e passa a ser o governador de seu reino.

As Mil e Uma Noites
















As Mil e Uma Noites (Alf Lailah Oua Lailah) é uma obra clássica da literatura Persa, consistindo numa coleção de contos orientais compilados provavelmente entre os séculos XIII e XVI. São estruturados como histórias em cadeia, em que cada conto termina com uma deixa que o liga ao seguinte. Essa estruturação força o ouvinte curioso a retornar para continuar a história, interrompida com suspense no ar. O uso do número 1001 sugere que podem aparecer mais histórias, ligadas por um fio condutor infinito. Usar 1000 talvez desse a idéia de fechamento, inteiro, que não caracteriza a proposta da obra.

Foi o orientalista francês Antoine Galland o responsável por tornar o livro conhecido no ocidente (1704). Não existe texto fixo para a obra, variando seu conteúdo de manuscrito a manuscrito. Os árabes foram reunindo e adaptando esses contos maravilhosos de várias tradições. Assim, os contos mais antigos são provavelmente do Egito do século XII. A eles foram sendo agregados contos persas, hindus, siríacos e judaicos.

As versões mais populares hoje em dia são as que se baseiam em traduções de Sir Richard Francis Burton (1850) e Andrew Lang (1898), geralmente adaptadas para eliminar as várias cenas de sexo do original.

História persa



















Um viajante, curioso com tudo aquilo que o rodeava, perguntou a um pirilampo:
- Porque é que tu só brilhas de noite?
E o bicho respondeu-lhe:
-Não é verdade. Tanto brilho de noite como de dia. Simplesmente, quando o Sol se mostra ninguém repara em mim.

Sherazade






















Conta a lenda que na antiga Pérsia o Rei Shariar descobre que foi traído pela esposa, que tinha um servo por amante, o Rei despeitado e enfurecido matou os dois. Depois, toma uma terrível decisão: todas as noites, casar-se-ía com uma nova mulher e, na manhã seguinte, ordenaria a sua execução, para nunca mais ser traído. Assim procede ao longo de três anos, causando medo e lamentações em todo o Reino.

Um dia, a filha mais velha do primeiro-ministro, a bela e astuta Sherazade, diz ao pai que tem um plano para acabar com a barbaridade do Rei. Todavia, para aplicá-lo, necessita casar-se com ele. Horrorizado, o pai tenta convencer a filha a desistir da ideia, mas Sherazade estava decidida a acabar de vez com a maldição que aterrorizava a cidade.

E assim acontece, Sherazade casa-se com o Rei.

Terminada a breve cerimônia nupcial, o rei conduziu a esposa a seus aposentos, mas, antes de trancar a porta, ouviu uma ruidosa choradeira. “Oh, Majestade, deve ser minha irmãzinha, Duniazade”, explicou a noiva. “Ela está chorando porque quer que eu lhe conte uma história, como faço todas as noites. Já que amanhã estarei morta, peço-lhe, por favor, que a deixe entrar para que eu a entretenha pela última vez!”

Sem esperar resposta, a jovem abriu a porta, levou a irmã para dentro, instalou-a no tapete e começou: “Era uma vez um mágico muito malvado...”. Furioso, Shariar se esforçou ao máximo para impedir a narrativa; resmungou, bufou, tossiu, porém as duas irmãs o ignoraram. Vendo que de nada adiantava sua estratégia, ele ficou quieto e se pôs a ouvir o relato de Sherazade, meio distraído no início, profundamente interessado após alguns instantes. A pequena Duniazade adormeceu, embalada pela voz suave da rainha. O soberano permaneceu atento, visualizando mentalmente as cenas de aventura e romance descritas pela esposa. De repente, no momento mais empolgante, Sherazade silenciou. “Continue!”, Shariar ordenou. “Mas o dia está amanhecendo, Majestade! Já ouço o carrasco afiar a espada!” “Ele que espere”, declarou o rei. Shariar se deitou e logo dormiu profundamente. Despertou ao anoitecer e ordenou à esposa que concluísse o relato, mas não se deu por satisfeito. “Conte-me outra!”,

Sherazade com sua voz melodiosa começou a contar histórias de aventuras de reis, de viagens fantásticas de heróis e de mistérios. Contava uma história após a outra, deixando o Sultão maravilhado.

Sem que Sheramin percebesse, as horas passaram e o sol nasceu. Sherazade interrompeu uma história na melhor parte e disse:
- Já é de manhã, meu senhor!

O rei interessado na história, deixou Sherazade no palácio para mais uma noite.

E assim Sherazade fez o mesmo naquela noite, contou-lhe mais histórias e deixou a última por terminar. Sempre alegre, ora contava um drama, ora contava uma aventura, às vezes um enigma, em outras uma história real.

Dessa forma se passaram dias, semanas, meses, anos. E coisas estranhas aconteceram. Sherazade engordou e de repente recuperou seu corpo esguio. Por duas vezes ela desapareceu durante várias noites e retornou sem dar explicação, e o rei tampouco lhe perguntou nada.

Certa manhã ela terminou uma história ao surgir do sol e falou: “Agora não tenho mais nada para lhe contar. Você percebeu que estamos casados há exatamente mil e uma noites?” Um ruído lhe chamou a atenção e, após uma breve pausa, ela prosseguiu; “Estão batendo na porta! Deve ser o carrasco. Finalmente você pode me mandar para a morte!”.

Quem entrou nos aposentos reais foi, porém, Duniazade, que ao longo daqueles anos se transformara numa linda jovem. Trazia dois gêmeos nos braços, e um bebê a acompanhava, engatinhando. “Meu amado esposo, antes de ordenar minha execução, você precisa conhecer meus filhos”, disse Sherazade. “Aliás, nossos filhos. Pois desde que nos casamos eu lhe dei três varões, mas você estava tão encantado com as minhas histórias que nem percebeu nada...” Só então Shariar constatou que sua amargura desaparecera. Olhando para as crianças, sentiu o amor lhe inundar o coração como um raio de luz. Contemplando a esposa, descobriu que jamais poderia matá-la, pois não conseguiria viver sem ela.

Assim, escreveu a seu irmão e lhe propondo que se casasse com Duniazade. O casamento se realizou numa dupla cerimônia, pois Shariar esposou Sherazade pela segunda vez, e os dois reis reinaram felizes até o fim de seus dias.





"Um pouco mais de vinho, ó minha amada!
Tuas faces não tem ainda o brilho das rosas.
Um pouco mais de tristeza, Kháyyám!...
Tua amada vai olhar-te... vai sorrir..."

Rubaï 131






















Nesta noite caem pétalas das estrelas,

mas o meu jardim ainda não está coberto delas.

Assim como o céu derrama flores sobre a terra,

verto em minha taça o vinho da cor das rosas.

Omar Khayyam

Omar Khayyam


















Conhecido no Oriente de seu tempo como extraordinário filósofo e cientista, Omar Khayyam tornou-se célebre no Ocidente como autor da coleção de poemas denominada Rubaiyat.

Omar Khayyam, cujo nome árabe era Umar al-Khayyam, nasceu em 18 de maio de 1048, em Nishapur, cidade persa do império seldjúcida. Estudou filosofia e ciências em Nishapur, Balk e Samarcanda. A pedido do sultão Malik Xá, em 1074 fez estudos astronômicos para a reforma do calendário islâmico. Trabalhou mais tarde no preparo de uma vasta obra enciclopédica de que restam apenas dois tratados sobre metafísica e álgebra. A solução das equações de segundo grau e a demonstração da impossibilidade da resolução de equações de terceiro grau com números inteiros são suas principais contribuições à matemática.

No que diz respeito à obra poética, as referências da época são poucas e só a partir do século XVI começaram a ser descobertos os rubaiyat -- poemas persas epigramáticos -- com seu nome. Em 1859 o poeta britânico Edward FitzGerald publicou uma tradução livre da coletânea que, embora considerada infiel por especialistas, passou a ser estimada como um clássico da língua inglesa. Desde então surgiram várias versões do livro, em diversas línguas. Somente cerca de metade dos 500 rubaiyat atribuídos a Khayyam é tida como autêntica. No Brasil, uma tradução para o português deve-se a Otávio Tarqüínio de Sousa.

Os rubaiyat têm origem na literatura persa pré-islâmica e são poemas de uma só quadra (estrofe de quatro versos). Sugerem sempre uma atmosfera de prazer e expõem um pensamento que, entre cético e místico, prega com notável poder de síntese a atitude hedonista, orientada para os prazeres efêmeros, sobretudo o amor e o vinho. As quadras, no entanto, apresentam reflexão profunda e quase sempre pessimista sobre a natureza do universo, a passagem inexorável do tempo e a relação do homem com Deus. Khayyam morreu em Nishapur, em 4 de dezembro de 1122.

Provérbio persa




 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

"Conhece-se o coração de um homem pelo que ele faz, e a sua sabedoria pelo que ele diz."

(Provérbio persa)