domingo, 16 de novembro de 2014






Mil versos não equivalem a um só grão de trigo.
Provérbio persa

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Am´vel Zéfiro





Vai, amável zéfiro, e saúda em tom silencioso
A essa gazela dos pés ligeiros;
Dize que buscando-a percorro
Os terríveis abismos, a selva do amor.

 


Mercador que vendes a doçura
(Que o céu te outorgue longa vida!),
Por que com aversão assim esqueces
A tua ave canora cheia de ternura?

É acaso, oh rosa, tua beleza
Que orgulhosa se afasta do amor,
Quem te impede de escutar a lenda
De teu companheiro, o rouxinol?

Não sei por que é tão difícil achar
A cor da sinceridade
Em ninfas de majestosa graça,
De olhos negros e rostos de prata.

Pois ainda que teu rosto seja angelical
Uma só falta mancha sua beleza;
Teu encanto, que não tem fé nem constância,
Faria com que a aurora sentisse vergonha.

Controlamos com gentis maneiras
A alma sábia pelo juízo iluminada:
Nem inútil armadilha, nem falácia brilhante
Capturam a ave experimentada.

Como assombrar-se, Hafiz, se teu labor,
Cuja sonoridade encanta a planície etérea,
Tenta as mais solenes estrelas
A dançar com a estrela do amor?



Hafiz

O sorriso







Uma destas noites, um sábio me falou: “É preciso conheceres o segredo daquele que nos vende o vinho.”

E ainda: “Não leves nada a sério. O mundo carrega de enormes fardos aqueles que dobram a cerviz.”

Depois, estendeu-me uma taça onde o esplendor do céu se refletia tão vivamente que Zuhra se pôs a dançar:

“Filho, segue o meu conselho; não te inquietes com as noites deste mundo. Guarda as minhas palavras: elas são mais raras do que as pérolas”

“Aceita a vida como aceitas essa taça, de sorriso nos lábios, ainda que o coração esteja a sangrar. Não gemas como um alaúde; esconde as tuas chagas”

“Até o dia em que passares por trás do véu, nada compreenderás. Não podem ouvidos humanos ouvir a palavra do anjo”

“Na casa do amor, não te envaideças das tuas perguntas, nem da resposta.”


Hafiz

domingo, 21 de setembro de 2014

A casa de hóspedes














 

O ser humano é uma casa de hóspedes
Toda manhã uma nova chegada.
A alegria, a depressão, a falta de sentido, como visitantes inesperados.
Recebe e entretém a todos
Mesmo que seja uma multidão de dores
Que violentamente varrem a tua casa e tiram os teus móveis.
Ainda assim trata os teus hóspedes honradamente
Eles podem estar a limpar-te para um novo prazer.
O pensamento escuro, a vergonha, a malícia, encontra-os à porta rindo.
Agradece a quem vem,porque cada um foi enviado como um guardião do além.

Rumi
Mestre Sufi do sec. XII

Canto de primavera






O inverno abandona a planície com passo severo
E a primavera brinca alegre pelas pradarias,
O doce rouxinol entoa seus lamentos
E sua amada rosa esparrama suas belezas.

Oh Zéfiro, enquanto sopras tua brisa suave
Carregada de aromas dos bosques da Arábia,
Murmura minhas saudações pelo teu fértil vale
E diz à formosa Layla que seu poeta a ama.

Com uma mirada celestial da amada donzela
Saltaria de gozo meu coração arroubado;
A seus pés, humilde, inclinaria a cabeça,
E com as sobrancelhas varreria o solo sagrado.

Se os néscios que roubam da religião o viço
E criticam os doces deleites do amor
Vissem a Layla, não desejariam mais o Paraíso
E por seu sorriso dariam o celestial gozo.

Não te fies da fortuna, enganoso encanto,
Da qual os sábios fogem e adoram os estúpidos.
Enquanto sorri, soa o alarme o Destino,
Gira sua roda e ficas para sempre submergido.

Por que erigis, ricos e poderosos,
Cúpulas principescas e torres infinitas?
Enquanto tudo brota triunfante em vosso entorno
O Anjo da Morte conta vossos dias.

Doce tirano, nesse peito endurecido
Não guardes mais meu coração, meu seio em teu trono real;
Deixa que ali descanse seu palpitar
E goze de deleites que ignora a alma vulgar.

Esses olhos feros, o que significam?
E os cachos que emprestam ao ar seu odor?
Minha esperança voa despavorida,
Cai meu amor presa da desesperação.

Não armes essas sobrancelhas de arco celestial,
Oh doce donzela, com tanto desprezo;
Não faças que um desditoso, tão afogado já,
Abatido padeça sua dor eterna.

Não sejas mais escravo dos seres formosos:
Bebe, Hafiz! Desfruta, desafoga teu ânimo,
Com valor despreza ao hipócrita rufião
Que usa a religião em defesa do pecado.


Hafiz





Em meu pensamento perdido,
a imagem de tua boca não desaparecerá jamais,
nem pela crueldade do Céu,
nem pela aflição dos séculos.
Na pré-eternidade meu coração já estava
ligado aos cachos dos teus cabelos;
até o final dos tempos ele será dócil
e manterá o pacto.
Tudo o que está neste pobre coração passará,
salvo o peso dessa dor por ti que
jamais deixará meu coração.
Teu amor invadiu a tal ponto
meu coração e minha alma que,
se minha cabeça tombasse, ele continuaria...

Vê o Um, escuta o Um, conhece o Um:
nessa fórmula estão o princípio
e os corolários da Fé.


Hafiz

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Epitáfio de Hafiz em Shiraz


 



 
“Recebi, a Deus graças, a boa nova:
Vou reunir-me com meu Amado.
Vou por último abandonar esta gaiola
que tem meu espírito prisioneiro.
Amigo! Amante!
Quando venhas ao meu túmulo, vem embriagado,
de uma bebedeira que nunca decresça,
cheio seu ânimo de um fervor que engrandesse o amor,
a esperança.
Tem presente que a alegria deste mundo é curta,
passará com os anos vividos.
O importante é o que no final ficará,
dessa embriaguez que levas na Alma.”

trad. por Aurélio Buarque de Holanda, do Rubaiyat de Hafez.

Poema de Hafiz I







Aprendi tanto com Deus
Que não posso mais chamar-me
Cristão, Hindu, Muçulmano, Budista ou Judeu.
A Verdade partilhou tanto comigo sobre Ela mesma
Que não posso mais chamar-me
Homem, mulher, anjo ou mesmo Alma pura.
O Amor uniu-se a Hafiz tão completamente
Que reduziu a cinzas e libertou-me
De todos os conceitos e imagens
Que a minha mente alguma vez conheceu.

Hafiz






Al-Din Muhammad Hafiz (Chiraz 1325 - Id. 1390), poeta lírico persa, era exímio no gazel (espécie de ode) e professor de Exegese do Alcorão. Em suas obras uniu temas místicos à inspiração báquica e à exaltação da beleza. Nascido Shamus-ud-din Muhammad estima-se que tenha escrito por volta de 5000 poemas, dos quais de 500 a 700 tenham perdurado. Ficou mais conhecido no ocidente graças a Goethe que influenciou Ralph W. Emerson a traduzir alguns trabalhos de Hafiz no seculo XIX. Outros escritores que admiravam o trabalho dele eram: Nietzche, Pushkin, Turgenev, Carlyle alem de Garcia Lorca.

sábado, 23 de agosto de 2014

Aberto a todas as formas








Meu coração está aberto a todas as formas
É uma pastagem para as gazelas
E um claustro para os monges cristãos
Um templo para os ídolos
A Caaba do peregrino
As Tábuas da Torá
E o livro do Corão.
Professo a religião do amor
E qualquer direção que avancem Seus camelos
A religião do Amor
Será minha religião e minha fé.

Ib'n Arabi
Século XII

segunda-feira, 4 de agosto de 2014






A tarefa mais difícil ao caçar-te, Deus,
É usar aquele arco e aquelas flechas que deste ao meu coração.
Eles são feitos de simples água.
Eu miro a uma longa distância para o Sol.
Hafiz, quem pode entender o profundo absurdo
de todo o esforço neste caminho.
Porque não colocar esse antigo dilema do outra maneira.
Escute: Não foi apenas uma vez em nossa história
que uma formiga saiu e capturou um elefante com apenas uma mão.
Isso não te diz alguma coisa nova?
Talvez não
Este trabalho de ensinar não é fácil.


Hafiz




Um dia, o sol admitiu:
Sou apenas uma sombra,
quisera poder mostrar-te a infinita incandescência
que lançou minha imagem brilhante.
Quisera poder mostrar-te,quando você se sentir só ou na escuridão,
a surpreendente luz do seu próprio ser.


Hafiz

segunda-feira, 28 de julho de 2014





Podes caminhar na água?
Não fizeste mais do que uma palha
Podes voar no ar?
Não fizeste mais do que um mosquito
Conquista o TEU coração
- E pode ser que te
Tornes alguém

Khawaja Abdullah Ansari (1005-1090)

sexta-feira, 23 de maio de 2014





"A areia do deserto é para o viajante cansado, o mesmo que a conversa incessante é para o amante do silêncio."

Provérbio persa

terça-feira, 20 de maio de 2014





"O dia tem olhos, a noite ouvidos."

Provérbio persa

sábado, 3 de maio de 2014





Oh Senhor, intoxica-me com o vinho do Teu amor, prende meus pés com as correntes da Tua escravidão; Me esvazia de tudo exceto pelo Teu amor, E com isto destrói-me e me trás de volta à vida. Pois a fome que Tu despertou culmina em completa realização.

 Mestre sufi Sheikh Abdullah Ansari

terça-feira, 29 de abril de 2014

Morre no amor






Morre agora, morre!
Morre neste amor.
Quando morto estiveres, nova vida receberás.

Morre agora, morre!
Não temas esta morte,
pois todos hão de elevar-se da terra
e tocar os céus.

Morre agora, morre!
Liberta-te de vez da alma carnal:
ela é a grade, tu o prisioneiro.
Toma a ferramenta e cava o chão da prisão,
quando dela tiveres escapado, serás príncipe e rei.

Morre agora, morre diante do belo Rei!
E quando morto estiveres ante tal majestade,
hás de tornar-te insigne senhor.

Morre agora, morre!
E remove esta nuvem.
Quando saíres de trás dela
serás radiante lua cheia.

Silêncio! Faz silêncio!
O silêncio é o sinal da morte.
Em nome da vida
não fujas mais do que permanece silêncio!


Djalal ad-Din Rûmi

segunda-feira, 14 de abril de 2014





"Se ao meio-dia, o rei diz que é noite, você deve olhar para as estrelas."

Provérbio Persa

sábado, 29 de março de 2014





"A sorte avança a passos de pomba e foge a passos de gazela."
Provérbio persa

terça-feira, 25 de março de 2014





Que a beleza que amamos esteja no que fazemos.
Rumi



sexta-feira, 21 de março de 2014




Se não estiver em teu poder fazer o bem , ensina pelo menos aos homens o caminho do bem , pois o provérbio diz : "Sinaleiros do bem são aqueles que o praticam." quer dizer : o que aconselha a outro o bem é igual ao que pratica o bem. Sabe : o que pratica o bem e o que assimila o caminho do bem , são dois irmãos , cujos laços fraternais a humanidade não romperá . O que fez o bem afiança tanto o bem daquele que lhe mostrou o caminho, que de nenhum modo poderá ser destruído.

Do "Livro da Sabedoria" de Kabus ( Pérsia, século II DC )

Os Dervixes





O que possui a categoria dos dervixes
purifica-se, desfaz-se de todos os erros
e seu coração volve-se como prata lavrada.
É como o vento que traz o perfume de almíscar,
é como uma árvore que dá frutos,
suas folhas curam todas as enfermidades,
sob sua sombra refrescam-se os desesperados.
O lago do amor desborda-se com uma só lágrima,
em suas ribeiras brotam flores.
Todos os poetas são rouxinóis no jardim de Deus
e Yunus Emre é uma perdiz entre eles.


Yunus Emre

terça-feira, 11 de março de 2014

Necessito de ti






Teu amor me há roubado de mim, Tu és tudo o que necessito.
Dia e noite ardo de amor por ti, Tu és tudo o que necessito.
Nem me contentam as riquezas, nem me assusta a pobreza.
Me bastas com teu amor. Tu és tudo o que necessito.

Teu amor dissipa outros amores; os submerge
no mar do amor. Tu és tudo o que necessito.
Tua presença tudo preenche.
Tu és tudo o que necessito.

Hei de beber o vinho de teu amor, amar-te como louco na dor.
Tu és minha preocupação. Tu és tudo o que necessito.
Isso que chamam paraíso, uns palácios, uns jardins,
a quem os quiser, dá-os. Tu és tudo o que necessito.

Ainda que tenhas que matar-me e dar ao vento minhas cinzas,
meu pó seguirá dizendo: Tu és tudo o que necessito.
Yunus, Yunus é meu nome. Meu amor cresce cada dia.
Neste mundo e no outro, Tu és tudo o que necessito.


Yunus Emre

sexta-feira, 7 de março de 2014





Se vos atirardes a um poço, a Providência não é obrigada a ir lá buscar-vos. 

Provérbio Persa

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Eu queimo



 

Eu vago, queimando...
Meu corpo sangrando de amor
Sensível estou, não tenho ódio
Venha, veja o que amor fez a mim.

Sou levado, como os ventos
Sou poeira, como estradas
Eu fluo como inundações
Venha, veja o que amor fez a mim.

Como Mecnum eu queimo
Eu vejo meu amado em sonho
e entristeço ao acordar
Venha, veja que amor fez a mim.


Yunus Emre

Se eu te contasse



Amigo: se eu te contasse sobre uma terra do amor,
você me seguiria e veria?
Nessa terra existem vinhedos que produzem um vinho mortal.
Nenhuma taça pode contê-lo,
você engoliria este vinho?
As pessoas lá devem sofrer.
Você serviria a bebida mais doce aos outros e beberia a bebida amarga?
Não existem luas ou sois neste lugar, nada cresce ou diminui,
Você abriria mão dos seus planos e esqueceria as seduções?
Aqui nos somos feitos da água, terra, fogo e ar,
Yunus, diga a nós é disso do que você é feito?


Yunus Emre

Yunus Emre - (1241-1321)




 

Yunus Emre nasceu em Chiraz, cerca de 1241. Foi um poeta, dervishe e místico sufista. Se sabe pouco da vida de Yunus Emre: que se casou duas vezes, teve dois filhos e chegou a cumprir os 82 anos; também que recebeu uma importante formação espiritual. Os versos de Yunus contém o espírito e filosofia do misticismo Islâmico em linguagem simples e humana. Seus temas básicos eram amor universal, amizade, irmandade e justiça divina. Se conhecem duas obras suas: Risalet-un Nushiyye (O Opúsculo dos Conselhos) e seu Diván, que inclui uns 350 poemas, ainda que lhe foram atribuídos mais de mil.
Yunus morreu por volta de 1321.
Yunus Emre foi tão popular que passou a ser venerado como santo após sua morte.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Aonde Tu Estás, Está a Felicidade





Os olhos que veem um inimigo
São muitos milhares,
Mas o olho que vê um amigo
É um dentre mil.

Mesmo uma prisão
Irradia felicidade
Se o amor por Ti
Enche o coração.

Abençoada é a escravidão
Que Teu serviço compele,
Teus servos são felizes
Em suas servidões.


Há duas Caabas
A Caaba construída na terra
E a Caaba do coração.

A primeira é aquela que os pés
Dos peregrinos frequentam;
A outra é o local secreto
Que os Buscadores da Verdade descobrem.

É a primeira
Que enche os olhos dos fiéis;
A outra, apenas o devoto encontra
Sob o olhar de Deus mesmo.


A peregrinação à Caaba terrestre
É uma questão de disciplina formal;
A descoberta da Caaba do coração,
Depende da graça de Deus.

Numa, os peregrinos bebem do poço do Zam-Zam;
A outra abre suas fontes
Ao manar dos suspiros.

A Caaba terrestre
É guardada pela montanha Irfat,
O templo do coração
É radiante com a luz de Deus.

Da Caaba terrestre
ídolos de pedra foram removidos;
Da Caaba do coração
A voracidade e o desejo são destronados.


Abdullah Ansari

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014






As pessoas deste mundo são como três mariposas diante da chama de uma vela.
A primeira chegou perto da chama e disse:
- Eu sei o que é o amor!
A segunda, tocou levemente a chama com suas asas e disse:
- Eu sei como o amor pode queimar.
A terceira, atirou-se dentro da chama e foi consumida...
"E esta foi a única a saber o que é o verdadeiro amor"

Farid-Ud-Din Attar

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014





"A sede do coração não se acaba com uma gota de água."
Provérbio persa

domingo, 12 de janeiro de 2014

sábado, 4 de janeiro de 2014





Nos céus Eu vejo seus olhos. Em seus olhos, eu vejo os céus. Por que procurar outra lua? Ou um outro dom? O que eu vejo sempre será suficiente para mim.

Rumi

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014