A casa da esperança ergue sobre areia
Os cimentos da vida no ar sustentam
Vem, pois, vinho na minha mão derrama
Para por fim a toda pena.
Deixai que seja escravo da vontade do homem
Que sob a abóbada turquesa do céu
Das anímicas confusões
Logrou libertar-se e continua-o fazendo.
Excepto que a mente siga emaranhada
Com aquela cuja radiante beleza
A evocar o amor e a lealdade,
Liberta a mente de toda fadiga
Ontem à noite andei a beber
Na taberna e uma mensagem
Do mundo invisível agora vos conto
Que me trouxe o belo Gabriel
“Falcão de sobranceiro prestígio
de ninho elevado e olhar altivo
esta cidade da aflição
não é própria para passar os teus dias”
“E que não ouves que te chama o assobio?
Desde os muros do céu aclamou.
Não compreendo como é que foi
Que este engano seja a tua prisão”
Ouve o conselho que agora te dou
Que as tuas acções determina:
Estas são as frases que eu recebi
Daquele que foi meu ancião guia.
“Contenta-te com o destino e a vida
não voltes cenhoso o teu rosto
aqui abaixo a porta da liberdade
não está fechada para nós”
Não tentes achar fidelidade
Neste mundo de tão fraco apoio
Antes que a ti, esta velha bruxa
Traiu a milheiros de noivos
Não acredites em mostras de pura intenção
Nem que a rosa sorri sincera:
Laia-te, amante rouxinol:
Há muito motivo de pena.
Porquê gemes e invejas de Hafez,
Pobre poetinha, a facilidade?
Só Deus é que pode conceder
O dom musical e a graça feliz.
Hafiz
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