terça-feira, 28 de outubro de 2014

Am´vel Zéfiro





Vai, amável zéfiro, e saúda em tom silencioso
A essa gazela dos pés ligeiros;
Dize que buscando-a percorro
Os terríveis abismos, a selva do amor.

 


Mercador que vendes a doçura
(Que o céu te outorgue longa vida!),
Por que com aversão assim esqueces
A tua ave canora cheia de ternura?

É acaso, oh rosa, tua beleza
Que orgulhosa se afasta do amor,
Quem te impede de escutar a lenda
De teu companheiro, o rouxinol?

Não sei por que é tão difícil achar
A cor da sinceridade
Em ninfas de majestosa graça,
De olhos negros e rostos de prata.

Pois ainda que teu rosto seja angelical
Uma só falta mancha sua beleza;
Teu encanto, que não tem fé nem constância,
Faria com que a aurora sentisse vergonha.

Controlamos com gentis maneiras
A alma sábia pelo juízo iluminada:
Nem inútil armadilha, nem falácia brilhante
Capturam a ave experimentada.

Como assombrar-se, Hafiz, se teu labor,
Cuja sonoridade encanta a planície etérea,
Tenta as mais solenes estrelas
A dançar com a estrela do amor?



Hafiz

O sorriso







Uma destas noites, um sábio me falou: “É preciso conheceres o segredo daquele que nos vende o vinho.”

E ainda: “Não leves nada a sério. O mundo carrega de enormes fardos aqueles que dobram a cerviz.”

Depois, estendeu-me uma taça onde o esplendor do céu se refletia tão vivamente que Zuhra se pôs a dançar:

“Filho, segue o meu conselho; não te inquietes com as noites deste mundo. Guarda as minhas palavras: elas são mais raras do que as pérolas”

“Aceita a vida como aceitas essa taça, de sorriso nos lábios, ainda que o coração esteja a sangrar. Não gemas como um alaúde; esconde as tuas chagas”

“Até o dia em que passares por trás do véu, nada compreenderás. Não podem ouvidos humanos ouvir a palavra do anjo”

“Na casa do amor, não te envaideças das tuas perguntas, nem da resposta.”


Hafiz