segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Perfume e Realidade














Certa noite, o Mestre Bahaudin estava sentado, após o jantar, rodeado de um grande número de recém-chegados, jovens e velhos, todos desejosos de aprender.

O silêncio se fez, e o Mestre pediu que lhe fizessem uma pergunta:

- Qual é o obstáculo maior para o aprendizado e para o ensinamento do Caminho? - perguntou alguém.

O Mestre respondeu:

- As pessoas julgam segundo as aparências. Elas são atraídas pelos sermões, os barulhos e os rumores, e por tudo aquilo que os excita - como as abelhas pelo perfume das flores.

- Então como devem as pessoas se aproximarem da sabedoria, ou as abelhas das flores?

- O ser humano se aproxima da sabedoria pelos rumores e barulhos, os sermões e os livros, e em estado de excitação. Após se terem assim aproximado, eles ficam na proximidade mas somente para pedir ainda a mesma coisa e não por aquilo que a sabedoria pode dar - aquilo pelo qual ela ali está.

É o perfume que guia a abelha até a flor, mas, tendo chegado à proximidade da rosa, ela não se contenta em pedir mais perfume: ela se dispõe a recolher o pólen. Este néctar que ela deverá colher, é o equivalente da realidade da sabedoria da qual os rumores e imaginações são, de certa forma, o perfume.

A humanidade só conta com um pequeno número de “verdadeiras abelhas”. Enquanto que quase todas as abelhas são abelhas por sua aptidão para recolher o néctar, a maioria dos seres humanos não são ainda seres humanos - seres preparados para perceber aquilo que eles foram criados para perceber.

E o Mestre falou:

- Que aqueles que vieram aqui a Quasr al-Arifin, por causa do que leram, se levantem.

Muitos se levantaram.

- Que aqueles que chegaram até nós porque escutaram falar de nós, se levantem igualmente.

Foi ainda maior o número dos que se levantaram.

- Aqueles que ficaram sentados - retomou Bahaudin - estes vieram por que perceberam nossa presença e nossa verdade de uma outra forma, de maneira sutil.

- Entre aqueles que estão de pé, velhos ou jovens, há muitos que só querem ser sempre estimulados, cada vez mais, em seus sentimentos e procuram a excitação ou a tranqüilidade. Antes que eles possam aprender aquilo que não podem experimentar em outro lugar, eles deverão pedir o conhecimento e não a diversão e o espetáculo.

Depois ele disse o seguinte:

- Existem aqueles que são atraídos pela reputação de um mestre, e eles vêm lhe ver desejosos de experimentar ainda mais intensamente a mesma sensação. Quando este morre, eles visitam sua tumba, sempre pela mesma razão.

Enquanto suas aspirações não tiverem sido transformadas, como por alquimia, eles não encontrarão a verdade.

Depois há aqueles que visitam um mestre não porque eles escutaram falar dele como um conselheiro sábio e experimentado ou, se ele está morto, porque desejam ver sua tumba, mas por que eles reconhecem sua realidade profunda. Um dia virá onde cada um possuirá esta faculdade.

Então Bahaudin, o Desenhista, diz:

- Mas, enquanto se espera, o trabalho que será finalmente realizado através das gerações deverá ser realizado dentro de um mesmo indivíduo. Para tornar-se um Moisés, se terá que transcender o Faraó. O homem que é atraído pela reputação deverá tornar-se, de uma certa maneira, um outro homem. Ele deverá tornar-se aquele que habita nas proximidades da sabedoria por que sentiu sua realidade profunda.

Este é o objetivo deste Trabalho, antes que ele possa aprender. Enquanto não aprender isso, ele é só um dervixe. O dervixe deseja. O sufi percebe.

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